É a massa abjeta de sentidos e
sentimentos,
excremento dos deuses, barro informe
do não-ser deus.
No umbigo dessa ideia, por alta
casuística,
estamos menos adâmicos, menos
edênicos,
mas mais humanizados, demasiados.
Somos o universo no centro do corpo,
a coisa de todas as medidas.
Em sua corporalidade, fisicalidade, é
o próprio estar do ser.
Nossos corpos são o muro da
metafísica,
o alimento da guerra,
a pátina do tempo.
O nu, único realismo possível ao
corpo, é atemporal;
a despeito de toda anedótica moda e
cosmética efêmera.
É justamente em sua imensa
vulnerabilidade
que reside sua maior força,
a de estar provisório e de ser
impermanente,
passageiro, ao mesmo tempo em que
é transporte.
Sua decrepitude o torna eterno, sua
tangibilidade o faz icônico.
No corpo, a banalidade o faz inédito,
e o desinteresse que nos causa a nossa
familiaridade com ele
é a fonte mesma de toda
sensualidade.
O corpo humano é composto pelos quatro
elementos:
a
água, representada pelo hidrogênio
(pelo que se tem sede e chora),
o
ar em forma de oxigênio
(aquilo que se suspira),
a
terra como carbono
(aquilo que sobra no final),
e
fogo, representado pelo nitrogênio
(com cujo sal se faz a pólvora e,
com doçura, o amor).
O corpo é dividido em três partes:
sonho, dor e gestos.
A isso tudo se pode incorporar mais o
que se quiser,
já que o corpo é escravo da
mente,
embora o contrário também se
verifique;
o corpo tudo acata, como uma página em
branco;
ele sofre tudo, quase nunca calado,
mas sempre sofre.
O corpo sobrevive a tudo,
já que quando morre já não o chamamos
mais corpo,
senão cadáver.